inflação força governo a reduzir impostos no Brasil
A presidente Dilma Rousseff anunciou há uma semana a insenção de impostos federais sobre os produtos que integram a chamada cesta básica – ítens de alimentação e higiene tidos como de primeira necessidade.
Com isso, o governo vai abrir mão de R$ 5,5 bilhões em receitas neste ano. Uma medida muito pouco comum a um país famoso por espremer o bolso de seu consumidor com uma das cargas tributárias mais pesadas do planeta. Mas que se explica pelo ativismo do governo em tentar conter a escalada da inflação, que nos últimos meses começa a preocupar os economistas dentro e fora de Brasília.
Dilma Rousseff não quer ver os preços subirem acima do teto estabelecido de 6.5% ao ano. Meta que vai se configurando difícil quando se leva em conta os resultados de janeiro e fevereiro e as projeções para os próximos quatro meses.
Atualmente, os custos já navegam acima da meta federal. Com potencial claro de repique em junho, quando se espera os rejustes nas tarifas do transporte público urbano. Desonerar a cesta básica é, portanto, medida emergencial para quem pensa em segurar o leão da inflação. Queda de braços que sacramentará não apenas os rumos da economia brasileira para os próximos dois anos, como o destino político da presidente, que ja está em plena campanha para sua reeleição em 2014.
Com um índice de aprovação acima dos 70%, Dilma Rousseff sabe que a lembrança ainda fresca do passado inflacionário brasileiro tem condições de pulverizar sua popularidade caso não obtenha sucesso nessa empreitada econômica. Isso porque todo brasileiro com idade suficiente para ter comprado ao menos um litro de leite na década de 1980 coça a cabeça em sinal de preocupação quando escuta falar no avanço da inflação. E isso não é à toa. Em 40 anos, o Brasil teve uma inflação acumulada de 970 trilhões de pontos percentuais.
O pior período foi certamente o vivido nos anos de 1980, apelidado como "a década perdida". Nesses anos, o investimento externo no Brasil caiu abruptamente, a dívida alcançou níveis inimagináveis e os preços escalaram patamares jamais vistos. A cama estava posta para a hiperinflação que, em 1989, atingiu a marca de 1.973%. Somente em março de 1990 a taxa chegou a 82%. A história foi extinta com o Plano Real, em 1994. Um ano depois do recorde na inflação anual, que alcançou em 1993 inacreditáveis 2.477%.
Hoje em dia, ninguém espera pelo retorno ao que se via naqueles anos. No entanto, a dura recordação de acompanhar comerciantes remarcando preços de produtos na gôndola diariamente desencandeia um trauma psicológico no brasileiro. Por hora, resta aguardar na expectativa que os varejistas repassem para o consumidor os descontos federais. E à presidente Dilma, torcer para que a economia reaquecer, girando o consumo e os pacotes de investimentos em infraestrutura, estes sim responsáveis diretos pelo avanço no PIB nacional.